No início de 2006 publiquei um artigo introduzindo a plataforma UMPC (na época ainda vinculada ao projeto Origami, da Microsoft) e especulando sobre as possibilidades de sucesso da plataforma, disponível no http://www.hardware.com.br/artigos/entendendo-umpc/.
Para quem caiu de para-quedas, a plataforma UMPC era um projeto desenvolvido por um conjunto de fabricantes, com destaque para a Intel e Microsoft. O interesse de ambos era óbvio: a Intel pretendia vender mais processadores e chipsets e a Microsoft queria vender mais cópias do Vista.
A idéia era boa: criar uma plataforma de PCs ultra-compactos, menores, mais leves e com uma maior autonomia que os notebooks, equipados com processadores dual-core, aceleração 3D, wireless e, opcionalmente, também a opção de se conectar à web via GPRS, EVDO ou outra tecnologia de rede celular. Com um UMPC, você teria um PC que poderia levar com você o tempo todo, carregando seus aplicativos e arquivos, que permitiria que você se conectasse à web ou assistisse vídeos em qualquer lugar.
Dentro da idéia inicial, até o final de 2006 teríamos UMPCs a preços acessíveis, criando um nicho intermediário entre os notebooks e os smartphones. Quem realmente precisasse de um PC completo, poderia comprar um notebook, enquanto quem quisesse apenas ter um PC portátil, para rodar tarefas leves, poderia usar um UMPC.
Embora a maioria dos protótipos de UMPC não tivesse teclados embutidos, você poderia utilizar um teclado e mouse USB ou bluetooth, aproveitando para plugar também um monitor externo enquanto estivesse em casa ou no escritório e utilizar o teclado onscreen no restante do tempo.
Pouco mais de um ano depois do anúncio oficial, podemos notar que o plano não deu muito certo. Os poucos modelos disponíveis são muito caros e as vendas ínfimas, tornando a plataforma mais um objeto de curiosidade, do que uma alternativa real. Vamos então revisitar o assunto, analisando o que deu errado e aproveitando para conhecer os MIDs, que podem vir a obter o sucesso que os UMPCs não conseguiram.
Um dos UMPCs mais bem sucedidos até o momento (pelo menos do ponto de vista técnico) foi o Sony VGN-UX1XN. Ele é um dos poucos modelos com potência suficiente para rodar o Vista:
Ele é baseado em um processador Intel Core Solo, de 1.33 GHz, com 1 GB de memória DDR2 e vídeo Intel GMA 950 integrado. A tela tem apenas 4.5 polegadas, mas mesmo assim usa resolução de 1024x600. Ao invés de utilizar um HD, ele utiliza um SDD, com 32 GB de memória flash, que permitiu reduzir o peso e o consumo elétrico, além de tornar o aparelho mais resistente a impactos.
Além da tela touch-screen e da câmera de 1.3 mp integrada, ele inclui um joystick no canto superior direto (que pode ser usado para funções diversas de navegação), diversas teclas de atalho e um teclado embutido. Além de navegar utilizando redes wireless próximas, você pode se conectar utilizando um celular com bluetooth, desde que, naturalmente, tenha um plano de dados com uma quota generosa de tráfego. :)
Medindo apenas 15 x 9.5 x 3.5cm e pesando apenas 500 gramas, ele se encaixa muito bem no conceito proposto inicialmente. Embora não seja um topo de linha, ele possui uma configuração poderosa o suficiente para rodar todo tipo de aplicativos e as limitações com relação ao tamanho da tela e do teclado podem ser supridas através do uso de um monitor, teclado e mouse externos, ataxados à dock-station que acompanha o aparelho. Com um destes, você não precisaria mais sequer carregar o notebook.
O problema todo se resume a uma única palavra: preço. O VGN-UX1XN custa, em maio de 2007, nada menos que 2000 euros, uma verdadeira bolada. Caso ele chegasse a ser vendido no Brasil, não custaria menos de 10.000 reais, dinheiro suficiente para comprar 5 notebooks low-end.
O mesmo problema afetou todos os outros UMPCs lançados. Ou eles eram muito caros (a maioria dos modelos custava a partir de US$ 1.600), ou possuíam uma configuração muito fraca, ou ainda ambas as coisas combinadas, o que fez com que, sem excessão, todos tivessem vendas medíocres. A realidade mostrou que construir um UMPC com um processador dual-core por US$ 500 era uma idéia um pouco à frente de seu tempo.
Para piorar, temos ainda a questão dos softwares e da ergonomia. Os UMPCs atuais são baseados no Windows XP ou no Vista e rodam os mesmos aplicativos que você usaria em uma PC de mesa. O problema é que as pequenas dimensões da tela e ausência de um teclado e mouse "de verdade" tornam o conjunto bastante desconfortável de usar.
É provável que tenhamos novos lançamentos de UMPCs, mas não espere nada revolucionário dentro deste segmento nos próximos anos. Os fabricantes não vão abandonar o conceito de uma hora para a outra, mas o baixo volume de produção vai manter os preços altos e fazer com que eles continuem restritos a nichos.
Fazendo um pouco mais de sucesso, mas ainda longe de serem um produto popular, temos os tablet-PCs. A maioria dos modelos são notebooks normais, onde você pode girar a tela touch-screen, fazendo com que ela se feche sobre o teclado. Somados aos recursos de reconhecimento de escrita e anotações, a solução acaba se tornando relativamente prática. O problema é que o baixo volume de produção faz com que os tablets tornem-se muito mais caros que um notebook "normal" de configuração equivalente, o que faz com que eles também fiquem restritos a nichos muito específicos.
O grosso das vendas de equipamentos portáteis se concentram em torno de duas plataformas que conhecemos bem: os notebooks e os smartphones.
Em ambos os casos, tivemos uma explosão na demanda e na produção, o que fez os preços caírem bastante. Nos EUA e Europa existem diversos modelos vendidos abaixo da faixa dos 600 dólares, com alguns já atingindo a marca dos US$ 500 quando comprados em promoções, ou no caso de modelos refurbished. Mesmo aqui no Brasil, temos diversos modelos abaixo da marca dos R$ 2000, a maioria deles fabricados pela ECS e revendidos por integradores nacionais. Chegamos ao ponto em que você pode entrar em uma loja das casas Bahia e comprar um notebook parcelado em 12 vezes, como se fosse uma geladeira ou outro eletrodoméstico.
Se isso é bom ou ruim, cabe à você responder. O meu ponto é que os notebooks se tornaram tão baratos que é difícil para qualquer nova plataforma conquistar seu espaço no mercado. Lentamente eles passaram a roubar o espaço até mesmo dos desktops.
Do outro lado, temos os smartphones, que incorporam algumas características dos PCs, mas não são poderosos o suficiente para substituí-los. Você pode usar seu Treo, Blackberry ou Pocket PC para acessar os e-mails, mandar mensagens ou mesmo checar as notícias enquanto está em transito, mas quando chega em casa ou no escritório, corre para o PC. :)
Os smartphones entrariam na mesma categoria dos MP3 players e outros gadgets. Eles complementam o PC ou notebook, permitindo que você tenha acesso a algumas funções enquanto está caminhando ou dirigindo, mas não os substituem.
Apesar disso, a Intel não desistiu de criar uma nova plataforma que se encaixe entre o notebook e o smartphone e seja capaz de reforçar suas vendas. Este slide exibido durante o IDF deste ano, dá uma pista do que vem pela frente:
Como você pode ver, o UMPC foi retirado da lista e substituído pelo "Handtop" (ou MID), uma nova plataforma que pode vir a fazer algum sucesso ao longo dos próximos anos, conquistando o espaço que os UMPCs não conseguiram.
MID é a abreviação de Mobile Internet Device. A idéia central é oferecer um dispositivo portátil, baseado em um processador x86 que possa rodar um navegador, leitor de e-mail e comunicadores diversos. A principal diferença entre um MID e um UMPC é que o MID é baseado em um processador muito mais simples, possui menos memória e utiliza alguns poucos GB de memória flash no lugar do HD. A configuração mais fraca permitiria desenvolver dispositivos mais baratos e ao mesmo tempo mais leves que os UMPCs.
O formato ainda não está bem definido, mas é provável que alguns fabricantes sigam o conceito "tablet" usado nos UMPCs, com uma tela touch-screen e um teclado retrátil ou onscreen, enquanto outros produzam "mini-notebooks", com teclados completos e mouses touch-pad, porém mais leves que um notebook tradicional.
Os MIDs serão inicialmente baseados nos processadores A100 e A110, versões de baixo consumo do Pentium-M (com core Dothan), que trabalham a respectivamente 600 e 800 MHz. Embora baratos de se produzir, eles ainda consomem em torno de 3 watts, o que ainda passa longe da meta de 0.5 watts exibida no slide.
O plano é deixar os fabricantes brincarem com esta solução provisória, produzindo modelos conceito que sejam capazes de atrair a atenção do público e deixar as coisas começarem a acontecer de verdade a partir de 2008, com o lançamento da plataforma Menlow.
Ela será baseada em processador x86 de baixo consumo, produzido com base na mesma técnica de produção de 45 nanômetros Hi-k, que será utilizada na produção do Penryn. Este novo processador, batizado de Silverthorne, terá um desempenho similar ao de um Celeron-M atual, mas terá um consumo brutalmente mais baixo, além de um custo de produção reduzido.
Complementando o Silverthorne, teremos o Poulsbo, um chipset que incluirá técnicas agressivas de gerenciamento de energia e um grande número de periféricos integrados, novamente com o objetivo de reduzir os custos de produção e consumo elétrico.
Ao invés de repetir o mesmo erro que cometeu nos UMPCs, tentando utilizar versões adaptadas de processadores da sua linha desktop, a Intel optou por desenvolver do zero o projeto do Silverthorne e do Poulsbo, o que permitiu reduzir brutalmente o número de transístores. É este conjunto otimizado que deve atingir a prometida marca de 0.5 watts de consumo para o processador.
Ao que tudo indica, o Silverthorne será um processador de 32 bits, com um conjunto de instruções muito similar ao do Pentium-M e o consequente suporte a um máximo de 4 GB de memória RAM. Em outras palavras, ele será uma espécie de versão modernizada do Pentium-M, com um consumo elétrico muito baixo, mas sem novidades na questão do processamento.
O plano é que os MIDs utilizem telas com 4.5 ou 6 polegadas, utilizando resoluções de 800x480 ou 1024x600, pesem em torno de 300 gramas e custem na faixa dos 500 dólares. A bateria duraria pelo menos 4 horas e, para atingir ambos os objetivos, o HD seria substituído por uma certa quantidade de memória flash, que armazenaria o sistema operacional, aplicativos e arquivos salvos.
Se você leu o meu artigo de 2006, deve se lembrar que os UMPCs também tinham como meta serem vendidos abaixo da faixa dos 500 dólares, mas na prática acabaram custando pelo menos o triplo disto. Desta vez, entretanto, a meta parece ser pelo menos um pouco mais realística, já que estamos falando de uma plataforma muito mais simples.
Outra característica que chama a atenção é que os MIDs não rodarão o Windows XP ou alguma versão simplificada do Vista, mas sim um sistema Linux customizado, com uma série de aplicativos adaptados ou desenvolvidos especialmente para a nova plataforma, como demonstra este outro slide exibido durante o IDF:
Os principais motivos divulgados são a redução do custo (já que mesmo uma cópia OEM do Windows custa pelo menos 50 dólares para os fabricantes, o que representa mais de 10% do custo final planejado) e o simples fato da Microsoft não ter uma versão do Windows adequada para a nova plataforma, já que o Vista é pesado demais para a configuração modesta dos MIDs e o XP não oferece os recursos de personalização necessários.
Pode ser que a Microsoft resolva investir em uma versão "Mobile" do Vista, de forma a tentar reaver o terreno perdido, mas ela demoraria para ficar pronta e não resolveria o problema do custo.
Por enquanto, os protótipos de MIDs demonstrados pela Intel rodam o MIDNUX, desenvolvido pela RedFlag, que vem sendo desenvolvido desde 2005:
Coincidentemente, o anúncio da plataforma MID, coincidiu com o anúncio do "Ubuntu Mobile and Embedded Edition" (veja o press release em: http://lwn.net/Articles/233288/) que, como o nome sugere é uma nova versão do Ubuntu, customizada para o uso em aparelhos móveis. Ela está sendo desenvolvida com o apoio da Intel, o que torna impossível não relacionar as duas coisas.
O lançamento da primeira versão do Ubuntu Mobile está planejada para outubro deste ano, coincidindo com o lançamento do Ubuntu 7.10. Já existem, entretanto, versões de desenvolvimento, que já circulam entre os fabricantes.
Um dos grandes problemas com relação ao uso do Linux em dispositivos móveis é a falta de uma plataforma comum. Se cada fabricante precisa desenvolver sua própria plataforma, os custos acabam sendo altos e o resultado mediano, na melhor das hipóteses. Se os esforços são unidos em torno de uma plataforma comum, os resultados tendem a ser muito melhores.
Como a Intel é um fabricante de hardware, faz todo o sentido apoiar o desenvolvimento de um sistema aberto, daí a "aliança secreta" com a Canonical em torno do Ubuntu Mobile.
Os primeiros MIDs devem chegar ao mercado a partir do segundo semestre, mas os modelos realmente interessantes surgirão apenas em 2008, junto com o Silverthorne. É a partir daí que os MIDs terão a chance de mostrar a que vieram.
Embora especular sobre produtos que ainda estão a um ano do lançamento seja complicado, posso arriscar dizer que os MIDs tem mais chances de se popularizarem que os UMPCs tinham a um ano atrás. Desta vez os objetivos são mais realísticos e a Intel está aplicando as lições
Para quem caiu de para-quedas, a plataforma UMPC era um projeto desenvolvido por um conjunto de fabricantes, com destaque para a Intel e Microsoft. O interesse de ambos era óbvio: a Intel pretendia vender mais processadores e chipsets e a Microsoft queria vender mais cópias do Vista.
A idéia era boa: criar uma plataforma de PCs ultra-compactos, menores, mais leves e com uma maior autonomia que os notebooks, equipados com processadores dual-core, aceleração 3D, wireless e, opcionalmente, também a opção de se conectar à web via GPRS, EVDO ou outra tecnologia de rede celular. Com um UMPC, você teria um PC que poderia levar com você o tempo todo, carregando seus aplicativos e arquivos, que permitiria que você se conectasse à web ou assistisse vídeos em qualquer lugar.
Dentro da idéia inicial, até o final de 2006 teríamos UMPCs a preços acessíveis, criando um nicho intermediário entre os notebooks e os smartphones. Quem realmente precisasse de um PC completo, poderia comprar um notebook, enquanto quem quisesse apenas ter um PC portátil, para rodar tarefas leves, poderia usar um UMPC.
Embora a maioria dos protótipos de UMPC não tivesse teclados embutidos, você poderia utilizar um teclado e mouse USB ou bluetooth, aproveitando para plugar também um monitor externo enquanto estivesse em casa ou no escritório e utilizar o teclado onscreen no restante do tempo.
Pouco mais de um ano depois do anúncio oficial, podemos notar que o plano não deu muito certo. Os poucos modelos disponíveis são muito caros e as vendas ínfimas, tornando a plataforma mais um objeto de curiosidade, do que uma alternativa real. Vamos então revisitar o assunto, analisando o que deu errado e aproveitando para conhecer os MIDs, que podem vir a obter o sucesso que os UMPCs não conseguiram.
Um dos UMPCs mais bem sucedidos até o momento (pelo menos do ponto de vista técnico) foi o Sony VGN-UX1XN. Ele é um dos poucos modelos com potência suficiente para rodar o Vista:
Ele é baseado em um processador Intel Core Solo, de 1.33 GHz, com 1 GB de memória DDR2 e vídeo Intel GMA 950 integrado. A tela tem apenas 4.5 polegadas, mas mesmo assim usa resolução de 1024x600. Ao invés de utilizar um HD, ele utiliza um SDD, com 32 GB de memória flash, que permitiu reduzir o peso e o consumo elétrico, além de tornar o aparelho mais resistente a impactos.
Além da tela touch-screen e da câmera de 1.3 mp integrada, ele inclui um joystick no canto superior direto (que pode ser usado para funções diversas de navegação), diversas teclas de atalho e um teclado embutido. Além de navegar utilizando redes wireless próximas, você pode se conectar utilizando um celular com bluetooth, desde que, naturalmente, tenha um plano de dados com uma quota generosa de tráfego. :)
Medindo apenas 15 x 9.5 x 3.5cm e pesando apenas 500 gramas, ele se encaixa muito bem no conceito proposto inicialmente. Embora não seja um topo de linha, ele possui uma configuração poderosa o suficiente para rodar todo tipo de aplicativos e as limitações com relação ao tamanho da tela e do teclado podem ser supridas através do uso de um monitor, teclado e mouse externos, ataxados à dock-station que acompanha o aparelho. Com um destes, você não precisaria mais sequer carregar o notebook.
O problema todo se resume a uma única palavra: preço. O VGN-UX1XN custa, em maio de 2007, nada menos que 2000 euros, uma verdadeira bolada. Caso ele chegasse a ser vendido no Brasil, não custaria menos de 10.000 reais, dinheiro suficiente para comprar 5 notebooks low-end.
O mesmo problema afetou todos os outros UMPCs lançados. Ou eles eram muito caros (a maioria dos modelos custava a partir de US$ 1.600), ou possuíam uma configuração muito fraca, ou ainda ambas as coisas combinadas, o que fez com que, sem excessão, todos tivessem vendas medíocres. A realidade mostrou que construir um UMPC com um processador dual-core por US$ 500 era uma idéia um pouco à frente de seu tempo.
Para piorar, temos ainda a questão dos softwares e da ergonomia. Os UMPCs atuais são baseados no Windows XP ou no Vista e rodam os mesmos aplicativos que você usaria em uma PC de mesa. O problema é que as pequenas dimensões da tela e ausência de um teclado e mouse "de verdade" tornam o conjunto bastante desconfortável de usar.
É provável que tenhamos novos lançamentos de UMPCs, mas não espere nada revolucionário dentro deste segmento nos próximos anos. Os fabricantes não vão abandonar o conceito de uma hora para a outra, mas o baixo volume de produção vai manter os preços altos e fazer com que eles continuem restritos a nichos.
Fazendo um pouco mais de sucesso, mas ainda longe de serem um produto popular, temos os tablet-PCs. A maioria dos modelos são notebooks normais, onde você pode girar a tela touch-screen, fazendo com que ela se feche sobre o teclado. Somados aos recursos de reconhecimento de escrita e anotações, a solução acaba se tornando relativamente prática. O problema é que o baixo volume de produção faz com que os tablets tornem-se muito mais caros que um notebook "normal" de configuração equivalente, o que faz com que eles também fiquem restritos a nichos muito específicos.
O grosso das vendas de equipamentos portáteis se concentram em torno de duas plataformas que conhecemos bem: os notebooks e os smartphones.
Em ambos os casos, tivemos uma explosão na demanda e na produção, o que fez os preços caírem bastante. Nos EUA e Europa existem diversos modelos vendidos abaixo da faixa dos 600 dólares, com alguns já atingindo a marca dos US$ 500 quando comprados em promoções, ou no caso de modelos refurbished. Mesmo aqui no Brasil, temos diversos modelos abaixo da marca dos R$ 2000, a maioria deles fabricados pela ECS e revendidos por integradores nacionais. Chegamos ao ponto em que você pode entrar em uma loja das casas Bahia e comprar um notebook parcelado em 12 vezes, como se fosse uma geladeira ou outro eletrodoméstico.
Se isso é bom ou ruim, cabe à você responder. O meu ponto é que os notebooks se tornaram tão baratos que é difícil para qualquer nova plataforma conquistar seu espaço no mercado. Lentamente eles passaram a roubar o espaço até mesmo dos desktops.
Do outro lado, temos os smartphones, que incorporam algumas características dos PCs, mas não são poderosos o suficiente para substituí-los. Você pode usar seu Treo, Blackberry ou Pocket PC para acessar os e-mails, mandar mensagens ou mesmo checar as notícias enquanto está em transito, mas quando chega em casa ou no escritório, corre para o PC. :)
Os smartphones entrariam na mesma categoria dos MP3 players e outros gadgets. Eles complementam o PC ou notebook, permitindo que você tenha acesso a algumas funções enquanto está caminhando ou dirigindo, mas não os substituem.
Apesar disso, a Intel não desistiu de criar uma nova plataforma que se encaixe entre o notebook e o smartphone e seja capaz de reforçar suas vendas. Este slide exibido durante o IDF deste ano, dá uma pista do que vem pela frente:
Como você pode ver, o UMPC foi retirado da lista e substituído pelo "Handtop" (ou MID), uma nova plataforma que pode vir a fazer algum sucesso ao longo dos próximos anos, conquistando o espaço que os UMPCs não conseguiram.
MID é a abreviação de Mobile Internet Device. A idéia central é oferecer um dispositivo portátil, baseado em um processador x86 que possa rodar um navegador, leitor de e-mail e comunicadores diversos. A principal diferença entre um MID e um UMPC é que o MID é baseado em um processador muito mais simples, possui menos memória e utiliza alguns poucos GB de memória flash no lugar do HD. A configuração mais fraca permitiria desenvolver dispositivos mais baratos e ao mesmo tempo mais leves que os UMPCs.
O formato ainda não está bem definido, mas é provável que alguns fabricantes sigam o conceito "tablet" usado nos UMPCs, com uma tela touch-screen e um teclado retrátil ou onscreen, enquanto outros produzam "mini-notebooks", com teclados completos e mouses touch-pad, porém mais leves que um notebook tradicional.
Os MIDs serão inicialmente baseados nos processadores A100 e A110, versões de baixo consumo do Pentium-M (com core Dothan), que trabalham a respectivamente 600 e 800 MHz. Embora baratos de se produzir, eles ainda consomem em torno de 3 watts, o que ainda passa longe da meta de 0.5 watts exibida no slide.
O plano é deixar os fabricantes brincarem com esta solução provisória, produzindo modelos conceito que sejam capazes de atrair a atenção do público e deixar as coisas começarem a acontecer de verdade a partir de 2008, com o lançamento da plataforma Menlow.
Ela será baseada em processador x86 de baixo consumo, produzido com base na mesma técnica de produção de 45 nanômetros Hi-k, que será utilizada na produção do Penryn. Este novo processador, batizado de Silverthorne, terá um desempenho similar ao de um Celeron-M atual, mas terá um consumo brutalmente mais baixo, além de um custo de produção reduzido.
Complementando o Silverthorne, teremos o Poulsbo, um chipset que incluirá técnicas agressivas de gerenciamento de energia e um grande número de periféricos integrados, novamente com o objetivo de reduzir os custos de produção e consumo elétrico.
Ao invés de repetir o mesmo erro que cometeu nos UMPCs, tentando utilizar versões adaptadas de processadores da sua linha desktop, a Intel optou por desenvolver do zero o projeto do Silverthorne e do Poulsbo, o que permitiu reduzir brutalmente o número de transístores. É este conjunto otimizado que deve atingir a prometida marca de 0.5 watts de consumo para o processador.
Ao que tudo indica, o Silverthorne será um processador de 32 bits, com um conjunto de instruções muito similar ao do Pentium-M e o consequente suporte a um máximo de 4 GB de memória RAM. Em outras palavras, ele será uma espécie de versão modernizada do Pentium-M, com um consumo elétrico muito baixo, mas sem novidades na questão do processamento.
O plano é que os MIDs utilizem telas com 4.5 ou 6 polegadas, utilizando resoluções de 800x480 ou 1024x600, pesem em torno de 300 gramas e custem na faixa dos 500 dólares. A bateria duraria pelo menos 4 horas e, para atingir ambos os objetivos, o HD seria substituído por uma certa quantidade de memória flash, que armazenaria o sistema operacional, aplicativos e arquivos salvos.
Se você leu o meu artigo de 2006, deve se lembrar que os UMPCs também tinham como meta serem vendidos abaixo da faixa dos 500 dólares, mas na prática acabaram custando pelo menos o triplo disto. Desta vez, entretanto, a meta parece ser pelo menos um pouco mais realística, já que estamos falando de uma plataforma muito mais simples.
Outra característica que chama a atenção é que os MIDs não rodarão o Windows XP ou alguma versão simplificada do Vista, mas sim um sistema Linux customizado, com uma série de aplicativos adaptados ou desenvolvidos especialmente para a nova plataforma, como demonstra este outro slide exibido durante o IDF:
Os principais motivos divulgados são a redução do custo (já que mesmo uma cópia OEM do Windows custa pelo menos 50 dólares para os fabricantes, o que representa mais de 10% do custo final planejado) e o simples fato da Microsoft não ter uma versão do Windows adequada para a nova plataforma, já que o Vista é pesado demais para a configuração modesta dos MIDs e o XP não oferece os recursos de personalização necessários.
Pode ser que a Microsoft resolva investir em uma versão "Mobile" do Vista, de forma a tentar reaver o terreno perdido, mas ela demoraria para ficar pronta e não resolveria o problema do custo.
Por enquanto, os protótipos de MIDs demonstrados pela Intel rodam o MIDNUX, desenvolvido pela RedFlag, que vem sendo desenvolvido desde 2005:
Coincidentemente, o anúncio da plataforma MID, coincidiu com o anúncio do "Ubuntu Mobile and Embedded Edition" (veja o press release em: http://lwn.net/Articles/233288/) que, como o nome sugere é uma nova versão do Ubuntu, customizada para o uso em aparelhos móveis. Ela está sendo desenvolvida com o apoio da Intel, o que torna impossível não relacionar as duas coisas.
O lançamento da primeira versão do Ubuntu Mobile está planejada para outubro deste ano, coincidindo com o lançamento do Ubuntu 7.10. Já existem, entretanto, versões de desenvolvimento, que já circulam entre os fabricantes.
Um dos grandes problemas com relação ao uso do Linux em dispositivos móveis é a falta de uma plataforma comum. Se cada fabricante precisa desenvolver sua própria plataforma, os custos acabam sendo altos e o resultado mediano, na melhor das hipóteses. Se os esforços são unidos em torno de uma plataforma comum, os resultados tendem a ser muito melhores.
Como a Intel é um fabricante de hardware, faz todo o sentido apoiar o desenvolvimento de um sistema aberto, daí a "aliança secreta" com a Canonical em torno do Ubuntu Mobile.
Os primeiros MIDs devem chegar ao mercado a partir do segundo semestre, mas os modelos realmente interessantes surgirão apenas em 2008, junto com o Silverthorne. É a partir daí que os MIDs terão a chance de mostrar a que vieram.
Embora especular sobre produtos que ainda estão a um ano do lançamento seja complicado, posso arriscar dizer que os MIDs tem mais chances de se popularizarem que os UMPCs tinham a um ano atrás. Desta vez os objetivos são mais realísticos e a Intel está aplicando as lições
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